Categorias: Organização

Como estou organizando o meu sistema de organização

Como estou organizando o meu sistema de organização | Blog Camile Carvalho | Vida Minimalista

Eu sou apaixonada por métodos de organização e produtividade. Estou sempre em busca do sistema perfeito, da ferramenta ideal, do app que tenha tudo que eu precise pra que tudo funcione como eu imagino. Mas uma coisa é verdade: o perfeito não existe.

O que precisamos fazer é refletir sobre as nossas necessidades individuais e como podemos transcrever isso para o que temos em mãos. Todo um fluxo deve funcionar com constância e com o mínimo de atrito possível. Para uns, usar uma única ferramenta que faça tudo é o ideal. Já para outros, tendo cada coisa em seu lugar traz mais clareza mental. Eu sou do tipo que gosta de categorizar tudo e ter o foco, integralmente, naquilo que estou fazendo no momento.

Se eu vou escrever um artigo científico, eu não quero me deparar com as fotos de um passeio ou livros que quero ler deitada na rede. Eu quero ver apenas o material que eu preciso para me concentrar pelas próximas horas e manter a atenção apenas naquilo.

Desde a semana passada eu ando em um fluxo de mudar tudo por aqui. Testo aplicativos novos, retorno a alguns que eu havia abandonado, migro meu sistema de notas, volto atrás… sinto que estou em um momento propício pra isso (temos que aproveitar o embalo) pra mudar tudo que eu tiver que mudar, já que 2 meses de doutorado já deram pra entender o ritmo que vou precisar dançar essa música pelos próximos anos. E eu quero ter tudo sistematizado.

Depois de muito escrever, me dei conta de 3 categorias que permeiam isso:

1. Como eu faço as coisas

São as ferramentas, os fluxos, os métodos. Uso GTD? Método PARA? Qual ferramenta? UpNote ou Evernote? Google Docs ou Word? Capturo em que lugar? Escrevo à mão em que caderno? Tudo isso deve ser bem pensado pra que não haja nenhum atrito em alguma das etapas no meu fluxo.

Não se enganem, há apps que todos usam mas que talvez não sirva pra você. Há outros, esquecidos num canto, mas que podem ser exatamente aquilo que você precisa.

Quando eu entro no fluxo de organizar e repensar todo o meu sistema, eu preciso me dedicar apenas a isso. Portanto, escolho dias em que não tenho outros compromissos ou reservo um momento do meu dia pra pensar, testar, ler e me inspirar.

2. O que eu aprendo (input)

Aqui entra tudo que eu leio e preciso aprender de alguma forma. Cursos que faço, disciplinas do doutorado, livros e artigos que leio. Tudo que coloco pra dentro deverá ser digerido com calma e consciência para depois servir para algo… mas, para o quê?

3. O que eu produzo (output)

Pode ser um post pro blog, um texto curto pras redes sociais ou a minha tese de doutorado. Depois da digestão bem feita, da categorização e de passar por vários filtros, pois acreditem, tudo que recebemos (input) pode ser aproveitado em algum momento.

Parece um sistema meio matemático da comunicação, mas é como eu consegui entender melhor como eu funciono. Para mim, eu tenho essas 3 categorias bem nítidas de acordo com a minha rotina e tipo de trabalho intelectual, o que pode ou não fazer sentido pra você.

Pretendo depois escrever mais sobre o processo de digestão, que é o que eu venho testando desde o ano passado com a leitura dos meus livros e que já falei um pouco sobre o assunto aqui.

Observação:

Como estou reorganizando toda a minha vida, estou num processo de repensar o que faz sentido pra mim e o que posso deixar um pouco de lado no momento. Decidi que quero escrever mais no blog, de forma simples e sem muito preparo e pompa.

A minha ideia é compartilhar pequenos trechos de inspirações e ideias que eu tenho, como um registro da minha mente. O intuito é que eu possa revisitar esses textos num futuro pra relembrar como eu estava me organizando, mas que, em vez de deixar apenas em meu app de notas no computador, decidi compartilhar publicamente para quem se interessar.

Sinta-se à vontade para comentar suas ideias também e trocar informações nos comentários. A ideia é que o processo de escrever no blog seja algo leve, como era antigamente pra mim, quando comecei a blogar.

Categorias: Livros

Livro: Eu posso estar errado

Eu posso estar errado - Björn Natthiko | Camile Carvalho - Vida Minimalista

Eu sou do tipo de leitora que ama escolher títulos leves e inspiradores pro meu Kindle. A sensação de me deitar na rede, sentindo o vento fresco em meu rosto enquanto leio inspirações me conduz a uma atmosfera de paz e serenidade da qual desejo permanecer por muito tempo após a leitura. Mas esse livro, escrito por Björn, ou Natthiko (seu nome budista), me tirou do lugar-comum desse tipo de literatura.

Björn Natthiko Lindeblad

Bjorn nasceu na Suécia, formou-se em economia e recém-formado conseguiu trabalhar com o que achava que gostava. Como ele mesmo dizia,  “trabalhava aumentando o lucro alheio”, e era bom nisso. Apesar do estresse, da ansiedade que vivia, não tinha outros planos pra sua vida, até que percebeu que precisava fazer algo pela sua saúde mental, ou não aguentaria muito a pressão em que vivia.

Experimentou, por diversas vezes, a meditação, mas sem sucesso algum. Chegou a se inscrever em retiros na floresta, mas acabou desistindo por não ter os resultados que esperava. Segundo ele, não conseguiu silenciar as vozes interiores, não conseguiu não pensar em nada – muito pelo contrário – e sequer atingiu a paz mental. Isso devia ser apenas pros iluminados, como Buda, não pra um rapaz como ele, cheio de desejos, ansiedades e trabalho a ser feito pipocando em sua mente.

Como é possível ter uma vida digna e livre se você acredita em todos os seus pensamentos?

Mas algo o fazia não desistir, até que em um determinado momento em sua vida, conseguiu compreender melhor a meditação e os princípios budistas. Após um longo caminho, entre retiros e cursos de meditação, decidiu morar na Tailândia, onde monges da Tradição da Floresta (Budismo Theravada) tinham um monastério. E naquele momento sua vida nunca mais foi a mesma, até tomar a decisão de abandonar a vida leiga e se entregar à tradição, sendo ordenado como monge budista.

Eu posso estar errado - Björn Natthiko | Camile Carvalho - Vida Minimalista
foto do site oficial: natthiko.se

Me envolvi demais com ele

O livro me emocionou por diversas vezes. Torci com ele, chorei, me emocionei e claro, anotei vários ensinamentos que ele passava, chegando até a escrever bastante sobre alguns insights que eu tive sobre a minha própria vida. Não foi um livro leve como outros no estilo que eu andei lendo, principalmente na parte final. Aliás, o livro tem 38 capítulos, mas bem curtinhos, o que me fez pensar o tempo todo que eu leria “só mais um capítulo, depois eu paro”, e assim o fiz por dois dias seguidos até chegar ao seu fim.

Eu já tinha descoberto que, quando minha tristeza, ansiedade ou solidão ficassem opressivas demais, eu poderia escolher me concentrar na respiração e permitir a consciência plena do meu corpo, sem aceitar cegamente cada um dos pensamentos que minha mente atirasse em mim.

Não se enganem, o livro começa leve e inspirador, mas tem uma reviravolta no seu terço final. Não é spoiler, mas Natthiko foi monge por 17 anos, sendo os primeiros 6 anos no monastério da floresta da Tailândia, 1 ano em reclusão total em uma cabana próxima a um vilarejo e mais 10 anos em alguns monastérios da Europa, mais próximo de seu país de origem. Ele conta as diferenças culturais, principalmente após viver sete anos na Tailândia e voltar pro Ocidente, como os monges são vistos por aqui e pelos tailandeses.

Após os 17 anos, Bjorn entrega as vestes e volta à vida leiga, mas sem abandonar o caminho budista. Apesar de muitos desafios no retorno à “vida comum”, se torna um palestrante e professor reconhecido que rodou o mundo contando sua experiência, transmitindo os ensinamentos e inspirando muitas pessoas.

Nunca me senti totalmente confortável com a expressão atenção plena. Não sinto minha mente plena quando estou vivendo o momento. Ela está mais para uma área ampla, vazia e acolhedora, com espaço de sobra para tudo e para todos. Presença consciente.

Um alerta de gatilho

O meu alerta vai para a porção final do livro. Eu fui pega de surpresa com alguns acontecimentos que ele narrou com tantos detalhes, o que me gerou muito desconforto (mas que na visão budista são vistos com outra compreensão). Eu simplesmente não conseguia parar de ler, já era madrugada, mas também eu não conseguia parar de chorar.

Ler os capítulos finais me deixou com um nó na garganta até hoje, o que me fez abrir o notebook e escrever esse texto sobre as minhas impressões do livro.

Um dia, vamos ter que nos despedir de pessoas que significam alguma coisa para nós. Nossa única certeza é que não teremos uns aos outros para sempre. Todo o resto é um talvez.

Eu queria despejar mais por aqui…

Enfim, eu gostaria de colocar mais meus sentimentos por aqui, despejar o que está em minha mente e meu coração, mas me vejo em uma linha sutil entre escrever um texto de desabafo e uma resenha de um livro. Contar tudo que eu senti ao ler os últimos capítulos seria expor pontos do livro considerados spoilers, mas como não colocar pra fora essa bomba de emoções que ele significou pra mim?

Talvez eu escreva pra mim mesma, no meu diário, talvez eu escreva em um outro momento e publique em um post separado, mas deixo pra vocês uma pequena chama para que leiam, se assim se interessarem, essa autobiografia de um monge Theravada.

Às vezes uma porta se fecha na sua vida sem que outra tenha se aberto. Alguma coisa está menos viva do que antes, um relacionamento, um emprego, uma casa, a cidade em que você mora. Isso pode acabar sem que tenha chegado a próxima etapa. De repente, você se vê cercado de incertezas. Em quê você pode se apoiar em momentos assim? Não é importante que, nessas horas, você possa contar com um senso inerente de confiança?

Fico por aqui hoje e espero que tenham gostado desse tipo de post aqui no blog Um pouco sentimental, uma resenha fora dos padrões, uma espécie de diário da minha leitura. Certamente voltarei ao livro mais vezes para que possa relembrar de alguns ensinamentos que, para uns, podem ser banais.

Talvez até mesmo para o próprio autor, mas que para mim, em diversos momentos tocaram fundo a minha alma me fazendo relembrar de lugares e situações que eu nunca vivi. Ou vivi.

Eu posso estar errado - Björn Natthiko | Camile Carvalho - Vida Minimalista
Foto: Elisabeth Lindeblad

Espero que sua vida possa ter menos de punhos cerrados e um pouco mais mãos abertas. Que você tenha um pouco menos de controle. Um pouco mais de confiança. Um pouco menos de necessidade de saber tudo de antemão. Que você aceite um pouco mais a vida como ela é.

Categorias: Papel

Entre o papel e o digital, eu escolho os dois

agenda de papel ou digital | Camile Carvalho - Vida Minimalista

Nos estudos de Comunicação, sempre relembramos as principais escolas desde a época do rádio: cada nova invenção substituirá a anterior, que desaparecerá. A TV substituirá o Rádio. O livro digital acabará com o impresso. Mas eles nunca acabaram, muito pelo contrário, eles coexistem.

Os avanços tecnológicos chegam trazendo inovações, praticidade, transformam quilos de papeis em bits, que cabem na palma das nossas mãos. Em vez de carregar meus cadernos de Bullet Journal, meus diários, cadernos do doutorado, eu posso simplesmente ter tudo no meu celular, ou no iPad, escrever com caneta digital, escanear (por meio de fotografia) páginas e páginas de textos… mas isso realmente é o melhor para os estudos? Como fica a cognição?

Hoje já temos vários estudos caminhando pra esse ponto: apreendemos, com todo o potencial, aquilo que digitamos? Que interferências o digital trouxe no processo do aprendizado? O que a fricção da caneta no papel poroso tem de diferente do movimento de digitação dos dedos em um teclado? Os estudos são muito interessantes, qualquer dia volto aqui pra falar sobre eles (esse não é o tema central do meu texto de hoje). Mas o que venho falar é sobre o equilíbrio.

Em vez de escolher um lado, a turma do papel ou a turma do digital, por que não usar os dois? Lá na época do Vida Minimalista eu levantei a bola do movimento Paperless (sem papel). Saí digitalizando tudo, concentrando minha vida no meu notebook. Na verdade, eu usava um ainda menor, um netbook (quem lembra?). Anotava as aulas no OneNote, escaneava os artigos em papel pro PDF, digitalizei meus documentos, passei tudo pro digital. Mantive em papel apenas o que fosse realmente necessário. Tudo ao meu redor ficou mais leve e eu sabia onde encontrar de tudo. Mas não posso negar que os tempos eram outros. Não tínhamos essa enxurrada de estímulos das redes sociais (isso era lá pra 2012) e de lá pra cá muita coisa mudou. Agora, a luta não é deixa o papel de lado e viver aproveitando todos os benefícios do digital, mas sim, reduzir o tempo de tela e voltar mais pro analógico, se conectar mais com a “vida real” – mas o que é real? o digital não é real? – e dar um descanso mental pra enorme carga de informações que recebemos ao ligarmos o computador, ou ao desbloquearmos o celular.

Ano passado eu tentei voltar ao máximo pro papel. Fiz um experimento de usar agenda, planner, cadernos, tudo no papel. Comprei canetas – ai meu hiperfoco em papelaria – e fiz tudo o que eu pude no papel. No fim do ano fiz um balanço e percebi que algumas coisas realmente precisavam estar no digital, enquanto outras poderiam continuar no papel.

Os cadernos são o meu descanso mental. É quando meus olhos desviam das telas e meu corpo trabalha de forma diferente, analógica. Recorto imagens impressas pra colar no meu diário. Escrevo caprichando a letra, colo um adesivo aqui, um washi-tape ali… não me preocupo com o tempo, pois aquele momento é reservado pra isso. Imprimo um artigo e uso o marca-texto, puxo seta, anoto nas margens. Mas também vem o momento em que passo minhas anotações pra um aplicativo como o Notion, UpNote e tenho tudo pesquisável na palma da minha mão.

Equilíbrio. É tudo o que busco nessa corda-bamba do digital e do analógico. Eu não preciso escolher um dos dois, eu escolho usar os dois.

E você? Tem a vida toda no digital ou prefere o analógico? Anda na corda-bamba pendendo mais pra um lado ou pro outro ou consegue equilibrar entre os dois? Me conte aqui nos comentários como é o seu cotidiano!